Assistente editor: Hugo de Aguiar

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senão se o nada for tudo (cantiga, ou fado)

nada nasce do nada
nem o milho que nasce do chão
nem o homem que nasce do homem
nem a morte que nasce da vida

aqui falamos da terra
que não nasceu do nada
pois já havia tudo
que não nascera do nada

um tudo que faz nascer tudo
e se desfaz no tudo
quando não houver mais tudo

senão se o tudo for nada

então o nada de nada serve
e não existe
porque nem do nada
nada nasce

se o nada não existe
existe tudo
a terra o homem e a morte

o que faz este tudo
sem nada

onde repousa

será no vazio de nada

senão existe
o nada não pode ter vazio

e o tudo reside no tudo
pois não suporta o nada

será que o nada não tem contexto
à volta de tudo

só um bocado
como pedaços de espelho
que colados aos demais
faria tudo

não pode ser
senão o nada seria tudo
e o tudo nada seria

o nada não existe
nem no reverso do tudo

então porque persiste
fazendo-nos crer que existe
colado ao tudo

como num noivado
onde tudo convida nada
e nada convida tudo

será que tudo é um espelho
que suporta o nada
que virado do avesso
nada mostra
nem nada nem tudo

apenas o inane ocre
que é a outra face do tudo
ou nada
que uma vez quebrado
deixou de ser tudo
até de ser nada

o tudo é portanto útil e fútil
dum lado
ócio do nada
do outro parto de tudo

talvez tudo esteja cheio do nada
se assim for

não existe nada nem tudo

ferool

1 comentário:

Sandra disse...

Tornei-me sua seguidora.
Obrigada por ser uns dos meus primeiros.
Venha sempre. vou estar esperando.
Sandra