nada nasce do nada
nem o milho que nasce do chão
nem o homem que nasce do homem
nem a morte que nasce da vida
aqui falamos da terra
que não nasceu do nada
pois já havia tudo
que não nascera do nada
um tudo que faz nascer tudo
e se desfaz no tudo
quando não houver mais tudo
senão se o tudo for nada
então o nada de nada serve
e não existe
porque nem do nada
nada nasce
se o nada não existe
existe tudo
a terra o homem e a morte
o que faz este tudo
sem nada
onde repousa
será no vazio de nada
senão existe
o nada não pode ter vazio
e o tudo reside no tudo
pois não suporta o nada
será que o nada não tem contexto
à volta de tudo
só um bocado
como pedaços de espelho
que colados aos demais
faria tudo
não pode ser
senão o nada seria tudo
e o tudo nada seria
o nada não existe
nem no reverso do tudo
então porque persiste
fazendo-nos crer que existe
colado ao tudo
como num noivado
onde tudo convida nada
e nada convida tudo
será que tudo é um espelho
que suporta o nada
que virado do avesso
nada mostra
nem nada nem tudo
apenas o inane ocre
que é a outra face do tudo
ou nada
que uma vez quebrado
deixou de ser tudo
até de ser nada
o tudo é portanto útil e fútil
dum lado
ócio do nada
do outro parto de tudo
talvez tudo esteja cheio do nada
se assim for
não existe nada nem tudo
ferool
Assistente editor: Hugo de Aguiar
deaguiar.hugo@gmail.com
Olhar ausente (cantiga)
Dai-me a esmola dum olhar
como espelho não posso comprar
não sei quem sou
mas sei que estou
A minha existência é mole
não tenho número nem role
sou sem querer
olho sem ver
Não quero ser vosso anojar
nem vosso convite aceitar
apenas peço um olhada
mesmo que seja monada
Olhares ternos não conheço
nem mesmo olhares de travesso
na vida nunca me achei
espelho nunca comprei
Dai-me a esmola dum olhar
mesmo que seja fugitivo
para na minha retina ficar
como um belo olhar cativo
Prometo que não farei
do vosso olhar uma imagem
um espelho comprarei
para vos prestar homenagem
Viverei com vosso olhar
terei enfim harmonia
agora verei a cantar
que até cantar não sabia
ferool
como espelho não posso comprar
não sei quem sou
mas sei que estou
A minha existência é mole
não tenho número nem role
sou sem querer
olho sem ver
Não quero ser vosso anojar
nem vosso convite aceitar
apenas peço um olhada
mesmo que seja monada
Olhares ternos não conheço
nem mesmo olhares de travesso
na vida nunca me achei
espelho nunca comprei
Dai-me a esmola dum olhar
mesmo que seja fugitivo
para na minha retina ficar
como um belo olhar cativo
Prometo que não farei
do vosso olhar uma imagem
um espelho comprarei
para vos prestar homenagem
Viverei com vosso olhar
terei enfim harmonia
agora verei a cantar
que até cantar não sabia
ferool
o coxo e os mochos (cantiga)
pousado num mocho
um mocho dormita
quando vem um coxo
de cana aflita
e expulsa a rapina
que na noite grita
que triste é a sina
e que noite maldita
empós tó-carocho
de viés solicita
convidando o mocho
a pousar na chita
sentado no mocho
o coxo dormita
a seu lado no mocho
a ave cogita
que bom é o coxo
que me deu guarita
na ponta do mocho
de largura estrita
no assento acocho
um canto traquina
o milagre do chocho
que bebeu na tina
o pio do mocho
que azeite era mina
depôs o arrocho
e a perna germina
de manhã o mocho
deserto e catita
vê correr o coxo
com a ave bendita
ferool
um mocho dormita
quando vem um coxo
de cana aflita
e expulsa a rapina
que na noite grita
que triste é a sina
e que noite maldita
empós tó-carocho
de viés solicita
convidando o mocho
a pousar na chita
sentado no mocho
o coxo dormita
a seu lado no mocho
a ave cogita
que bom é o coxo
que me deu guarita
na ponta do mocho
de largura estrita
no assento acocho
um canto traquina
o milagre do chocho
que bebeu na tina
o pio do mocho
que azeite era mina
depôs o arrocho
e a perna germina
de manhã o mocho
deserto e catita
vê correr o coxo
com a ave bendita
ferool
a corrida do riso ( cantiga ou fado )
o riso foi tão rápido
que ganhou ao sisudo
batendo ainda o chorão
palmas para o riso
ganhou o nosso campeão
riso, risos, riso
os outros que tenham juízo
não é com olhar chorudo
que se vai à competição
riso, risos, riso
que tudo devastas
e não crias prejuízo
nos lábios iconoclastas
pula nas pedras da amargura
ilumina o seu percurso
com tal desenvoltura
que consta que dá um curso
àqueles com trombas de urso
e com rugas insensatas
que avariam o excurso
com trejeitos de bravatas
o riso ganhou
viva o riso, viva o riso
viva o riso até mais não
e aquele que parou
de rir perde o guiso
e afrouxa o coração
riso, risos, riso
ferool
que ganhou ao sisudo
batendo ainda o chorão
palmas para o riso
ganhou o nosso campeão
riso, risos, riso
os outros que tenham juízo
não é com olhar chorudo
que se vai à competição
riso, risos, riso
que tudo devastas
e não crias prejuízo
nos lábios iconoclastas
pula nas pedras da amargura
ilumina o seu percurso
com tal desenvoltura
que consta que dá um curso
àqueles com trombas de urso
e com rugas insensatas
que avariam o excurso
com trejeitos de bravatas
o riso ganhou
viva o riso, viva o riso
viva o riso até mais não
e aquele que parou
de rir perde o guiso
e afrouxa o coração
riso, risos, riso
ferool
Canção ou fado
Viv'ó vinho
Hora viva senhor dono
Traga um copinho pró tono
E plante-o na folha do sono
Que este que está a ver
Está seco para beber
Que queira, ou não queira crer
Não demore que eu fico
Com cara de mafarrico
Se não tem copo, traga penico
Vivam também os que estão
Aproveitem que é a minha mão
Bebendo mesmo pelo garrafão
Esta vida são dois dias
Um de tristeza e outro de alegrias
Deixemo-nos de cortesias
Ontem foi dia para esquecer
Sei que hoje vou morrer
E não quero ir sem beber
Desculpem-me a brincadeira
Estou sem tostão na carteira
Mas quero tomar a bebedeira
Se não querem conviver
Nem beber para esquecer
Paguem a conta que houver
Que eu bebo por vós até morrer!
Antanho Esteve Calado
Hora viva senhor dono
Traga um copinho pró tono
E plante-o na folha do sono
Que este que está a ver
Está seco para beber
Que queira, ou não queira crer
Não demore que eu fico
Com cara de mafarrico
Se não tem copo, traga penico
Vivam também os que estão
Aproveitem que é a minha mão
Bebendo mesmo pelo garrafão
Esta vida são dois dias
Um de tristeza e outro de alegrias
Deixemo-nos de cortesias
Ontem foi dia para esquecer
Sei que hoje vou morrer
E não quero ir sem beber
Desculpem-me a brincadeira
Estou sem tostão na carteira
Mas quero tomar a bebedeira
Se não querem conviver
Nem beber para esquecer
Paguem a conta que houver
Que eu bebo por vós até morrer!
Antanho Esteve Calado
aquela linda catraia ( canção ou fado ) - Pantum
das flores quero perfume
dos lábios quero beber
na tua boca o cerume
até não mais apetecer
dos lábios quero beber
os trejeitos de catraia
até não mais apetecer
ou que a lua se esvaia
os trejeitos de catraia
de blusa fina no peito
ou que a lua se esvaia
no céu escuro desfeito
de blusa fina no peito
e na cinta bela saia
no céu escuro desfeito
na cama doce desmaia
e na cinta bela saia
doidivanas e sem jeito
na cama doce desmaia
com o tesão do afeito
doidivanas e sem jeito
aquela linda catraia
com o tesão do afeito
dança na cama sem saia
ferool
dos lábios quero beber
na tua boca o cerume
até não mais apetecer
dos lábios quero beber
os trejeitos de catraia
até não mais apetecer
ou que a lua se esvaia
os trejeitos de catraia
de blusa fina no peito
ou que a lua se esvaia
no céu escuro desfeito
de blusa fina no peito
e na cinta bela saia
no céu escuro desfeito
na cama doce desmaia
e na cinta bela saia
doidivanas e sem jeito
na cama doce desmaia
com o tesão do afeito
doidivanas e sem jeito
aquela linda catraia
com o tesão do afeito
dança na cama sem saia
ferool
a flor.. a fruta.. o amor.. o ciúme.. a morte.. e o poeta… (cantiga)
o que resta duma flor
depois de ser deflorada
uma aflita sem sabor
de liga almiscarada
o que resta da fruta
depois da refeição
o esófago que eructa
e umas cascas no chão…
o que resta do amor
depois do sono chegar
um carnal despudor
e hipotético recomeçar
o que resta do ciúme
depois da louça se desfazer
dois arlequins sem aprume
e bocados no chão a sofrer
o que resta da morte
depois da vida vacilar
um infinitivo suporte
ou um adubo de pomar
o que resta do poeta
depois destas avalias
um sempiterno pateta
que jaze nas elegias
ferool
depois de ser deflorada
uma aflita sem sabor
de liga almiscarada
o que resta da fruta
depois da refeição
o esófago que eructa
e umas cascas no chão…
o que resta do amor
depois do sono chegar
um carnal despudor
e hipotético recomeçar
o que resta do ciúme
depois da louça se desfazer
dois arlequins sem aprume
e bocados no chão a sofrer
o que resta da morte
depois da vida vacilar
um infinitivo suporte
ou um adubo de pomar
o que resta do poeta
depois destas avalias
um sempiterno pateta
que jaze nas elegias
ferool
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